Queremos
ratificar, como toda firmeza, a posição do Equador a respeito da
ameaça que ontem, 15 de agosto, o Governo do Reino Unido fez contra
o nosso país.
Não
podemos permitir que o processo de estudos e conversas amistosas com
o Reino Unido, referentes ao caso de asilo político de Julian
Assange, seja prejudicado pela comunicação oficial que agride
manifestadamente o Equador.
Tampouco
podemos admitir que a reação dos porta-vozes oficiais do Reino
Unido, a respeito de nossa queixa pública por tão impróprio
comportamento, se reduza a alegre declaração de que eles somente
“foram honestos” em sua posição.
O
memorandum entregue oficialmente a nossa Chancelaria pelo Encarregado
de Negócios da Embaixada do Reino Unido em Quito se expressa nos
seguintes termos:
-
“Devem
estar conscientes de que há uma base legal no Reino Unido – a Lei
sobre Instalações Diplomáticas e Consulares de 1987 (Diplomatic
and Consular Premises Act 1987) – que nos permitiria tomar ações
para prender o Sr. Assange nas instalações atuais da Embaixada”.
-
“Sinceramente
esperamos não ter que chegar a este ponto, mas se os senhores não
puderam resolver o assunto da presença do Sr. Assange em suas
instalações, este caminho está aberto para nós”.
O
que, na visão do governo, manifesta a aberta intenção de utilizar
de forma incondicional tanto instrumentos normativos de âmbito
estatal, como o uso da força como método de resolução de uma
situação a qual, até agora, estava sendo articulada através de
canais amistosos e estritamente diplomáticos.
Ao
longo do processo de conversas mantidas pelo caso Assange, o Reino
Unido não cedeu nem um ponto na intenção de encontrar uma solução
satisfatória para todas as partes. Neste contexto, a nota entregue
ontem é um claro e ofensivo ataque ao direito que o Equador tem,
como país soberano, de decidir sobre uma solicitação de proteção
diplomática ao cidadão que a solicitou, livre de coações,
pressões e manipulações de nenhum tipo.
Nos
causa assombro lembrar que entre os vários precedentes denunciados
ao Conselho de Segurança da ONU – do qual o Reino Unido é membro
permanente – por ações intrusivas em dependências diplomáticas,
se encontre a recente nota de imprensa SC/10463, emitida em 29 de
novembro de 2011. Neste caso, o país afetado foi, precisamente, o
Reino Unido, e como sustentação legal aplicou-se, desta vez sim, a
Convenção de Viena sobre relações Diplomáticas de 1961, e o que
tal tratado estipula a respeito da inviolabilidade do pessoal e
locais diplomáticos, que devem ser respeitados e protegidos pelos
Estados, em todos os casos.
Também
cabe mencionar as resoluções do Conselho de Segurança da ONU nº
457, de 4 de dezembro de 1979, e nº 461, de 31 de dezembro de 1979,
após a crise da Embaixada dos EUA em Teerã. Novamente, a convenção
de Viena foi o instrumento legal usado para condenar de forma
contundente a atuação de um Estado sobre a situação do pessoal e
dos locais diplomáticos de um terceiro país.
Portanto,
não podemos admitir a dupla medida utilizada pelas autoridades
britânicas no nosso caso. Nenhuma lei de âmbito nacional pode ser
utilizada para justificar, em nenhum caso, uma ação intrusiva em
locais diplomáticos de nenhum país do mundo. E muito menos, pode
servir de desculpa para emitir ameaças explícitas e chantagens
grosseiras que tentem frustrar a vontade de um país soberano. Nunca!
Diante de tal ação, que pressupõe um perigosíssimo precedente
para qualquer país de nosso continente e do mundo, o Equador
solicitou imediatamente aos organismos regionais, OEA, ALBA e UNASUL,
a convocação de reuniões de alto escalão para tratar desta ameaça
e coordenar uma resposta a nível regional, que não deixe impune
semelhante ato. No próximo domingo teremos uma reunião da UNASUL em
Guayaquil.
Neste
sentido, o de responder de forma clara e comum diante deste tipo de
ações, o Equador gostaria de agradecer publicamente as
demonstrações de apoio e solidariedade que muitos países, líderes
políticos e ativistas sociais têm expressado, por diferentes meios,
desde a tarde de ontem. Apesar de que a resposta por parte de
porta-vozes do Governo Britânico não tenha sido satisfatória –
até o momento, esta chancelaria não recebeu nenhuma desculpa,
desmentido ou retificação –, achamos que o clamor de todos os
tipos reforçam nossa resposta firme e apegada aos princípios
elementares do direito e do respeito entre países iguais.
O
Equador é um Estado livre e democrático, não sujeito a tutelas
externas de nenhum tipo, independente de interesses diferentes aos de
seu povo, soberano em suas decisões políticas e jurídicas.
Igualmente,
corrobora sua posição de respeito ao Direito Internacional e seu
compromisso inequívoco pelo diálogo entre Estados para a resolução
de conflitos.
Fonte: Ministério de Relações Exteriores do Equador
Fonte: Ministério de Relações Exteriores do Equador
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